segunda-feira, 31 de agosto de 2009

As Festas do Crato: acabaram!!

E 24 horas depois, chegámos às

Festas do Crato, dia 29, sábado.

Mas, gaita! Será que este Papagaio vai a todas? Pois é, amigos. As férias a acabar, Setembro está quase aí e há que aproveitar.

O último dia foi agradável, mas não deu para esquecer o dia anterior.

Após o Angélico (outro produto fabricado "made in DZRT"), que eu não vi nem ouvi, chegaram os The Gift. Aquela Sónia Tavares tem o bicho no corpo! Só ela enchia o palco! O que não quer dizer que o resto do grupo seja de deitar fora! Aliás, a sua carreira fala por si!

Foi um óptimo concerto, mas, segundo a minha amiga Célia ("expert" no que aos The Gift diz respeito), a Sónia até nem estava muito agitada! Provavelmente, porque o namorado, Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, estava na audiência, por sinal perto de nós!





E para terminar, os alemães Reamonn, famosos entre a malta jovem (e menos jovem) do nosso país, principalmente a partir do dia em que apareceram num episódio dos Morangos Com Açucar.

A banda de Rea Garvey tem um som pop muito agradável, limpo e escorreito, que se ouve muito bem, com êxitos como «Star», «Tonight», «Faith» e outros.


Foi a chave perfeita para encerrar este Festival, deixando-nos com água na boca, imaginando como é que a Organização nos irá surpreender uma vez mais.

Agora... bem, até 2010. Com a certeza de que lá estarei, no Crato, se tudo correr bem, que Ponte de Sor irá ter umas Festas da Cidade com a «cólidade» a que nos habituou, que o «Sete Sóis Sete Luas» irá voltar a P.Sor e que, esperemos, o Rancho do Sor consiga pôr de pé as Festas de Agosto uma vez mais! Vou fazer força para isso!

São os meus votos «artísticos».
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domingo, 30 de agosto de 2009

As Festas do Crato (parte III)...


Onde é que estava? Ah, estamos nas

Festas do Crato, dia 28, sexta feira.

Chegámos e ainda se ouviam os acordes finais de Vintém (alguém lhe devia dizer que já passámos para o Euro!), um dos sobreviventes dos DZRT, com música com muito plástico, mas pouca substância. Assim a modos de saídos da fábrica das... Just Girls, mas em masculino!

Quando começou o artista seguinte, de nome JP Simões (parece mais uma firma de contabilistas do que um nome artístico!), o som não me agradou particularmente, por isso aproveitei para dar largas à componente gastronómica do Festival. Uma sandocha de leitão e uma bejeca, deram para enganar a fome. Por isso, a seguir mais uma dose de «encharcada» e um cafézinho! Yummi!...

Voltámos ao recinto, onde já começava Susana Félix e, mais tarde, o seu convidado Sérgio Godinho.


Devo dizer que aprecio particularmente Susana Félix, com uma voz melodiosa e muito calma, com melodias que ficam bem no ouvido. E com a chegada de Sérgio Godinho, foi um concerto que considerei limpinho e agradável.

E chegou Emir Kusturica, com a sua No Smoking Orchestra! Anarquia total!


Imaginem a cena: a entrada do grupo fez-se ao som do hino da antiga União Soviética! Só visto, mesmo! À frente, Emir Kusturica, envergando a camisola nº 25 do clube de futebol do Crato!

Já tinha tido o prazer de ouvir esta orquestra, em Ponte de Sor, no distante Julho de 2000. O prazer que me proporcionaram, hoje, em 2009, foi idêntico, com a sua música, que alguns apelidam de «Rock das Balcãs», ou, como eles próprios anunciam, «Unza Unza Time».

Destaco, primeiramente, o vocalista, Nele Karajlić, incapaz de estar parado um minuto! A sua energia, contagiante, levou a que todo o público ficasse «agarrado» desde os primeiros acordes! O homem era incansável!!


Foi um espectáculo... espectacular!!! Acho que nunca tinha visto tanta gente no Crato!

Vejam aqui mais umas fotos do show:



Para aqueles menos familiarizados com a música de Emir Kusturica and The Non Smoking Orchestra, fica aqui uma pequena amostra:
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sábado, 29 de agosto de 2009

As Festas do Crato (parte II)

Algumas vozes amigas insurgiram-se pelo facto de chamar apenas «Festas do Crato», quando o seu nome completo é «Feira de Artesanato e Gastronomia do Crato» ou ainda «Festival do Norte Alentejano». Pronto! O reparo está feito!

Como sabem, ontem foi o Emir Kusturica mas hoje vou falar da quarta feira.

Falemos então das
Festas do Crato, dia 27, quinta feira.

A miudagem obrigou-me a ir cedo uma vez mais, por isso ainda deu para eles ouvirem as Just Girls, um "fenómeno" do panorama musical actual, vindo directamente dos palcos das novelas para a juventude, como «Morangos com Açucar» e outros vegetais semelhantes.

Que dizer da música deste grupo? Muitas coreografias, muitos movimentos sensuais, mas essencialmente, muito plástico! Demasiado fabricado, demasiado construido para agradar a um certo tipo de audiência. E têm sucesso, como sucesso tiveram outros grupos, como os DZRT, ou os mais antigos Excesso.

Foram batizados como «boys bands» (ou «girls bands») mas são um fenómeno (ou epifenómeno?) com validade limitada: o ciclo de vida começa na concepção, muitos apelos sensuais, umbigos bem à vista com coreografias apelativas, e um dia o projecto já não dá mais: cada qual segue a sua vida, aparecem vários com carreiras independentes, aparecem como Angélico, ou Vintém, ou... tal qual como sucedeu com os depostos DZRT.

Mas continuemos.

Seguiram-se os Táxi ("Chiclete", lembram-se?), demonstrando que estavam ali para as curvas e velhos são mesmo os trapos.


O concerto foi agradável e deu para lembrar alguns dos exitos que nos punham a dançar nas discotecas da nossa zona. Lembro-me do «Don Napoleon» ou «Jet Bee», em Abrantes, ou no «Baleizão» ou, mais tarde, no «Primo Xico»! Belos tempos!

Claro, falta «la pièce de résistance»: The Animals!

Nascidos em 1963 e formados por Eric Burdon, Alan Price, Hilton Valentine, John Steel e Bryan "Chas" Chandler, marcaram uma época em que outros grupos igualmente brilharam, como The Beatles e The Rolling Stones, para citar os mais famosos.

Claro que não iríamos esperar que todos continuassem juntos, até hoje. A propósito de uma tournée, reuniram-se Mickey Gallagher, Pete Bartons, John Williamson e o único membro original dos The Animals, o baterista John Steel. Para evitarem quaisquer confusões passaram a chamarem-se The Animals & Friends.

À parte de toda a actuação, um pormenor maravilhoso... embora um pouco doloroso! Pelo menos para o viola John Williamson, que durante o pequeno almoço caíu, tendo fracturado o ombro! E pensam que não actuou? Nahhh! Foi um prazer vê-lo arrancar sons maravilhosos à sua guitarra, não obstante as dores que, de vez em quando, eram transparentes para quem o via.

Vejam e imaginem!


Adorei, tal como os milhares de pessoas que partilharam este momento único, regressar até aos anos em que ouvia do gira discos do meu irmão, êxitos como The House of the Rising Sun, Don't Let Me Be Misunderstood, Boom Boom Boom ou Don't Bring Me Down!

Vejam aqui uma amostra:



Há momentos na vida que, por muito que se veja, por muito que se oiça, por muito que se faça, ficam para sempre na nossa memória! Este foi um deles, que servirá como um dos momentos mais altos nos 25 anos deste Festival do Crato!

E hoje é o encerramento! E ainda me falta falar do Kusturica (lê-se "kusturitsa", conforme uma amiga sérvia me ensinou...). Desse, conto amanhã. Hoje temos os The Gift e Reamonn...

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

As Festas do Crato (parte I)...

... começaram no passado dia 25, terça-feira, dia que não tive o prazer de desfrutar!

Mas no dia seguinte, a coisa já foi diferente.

Aqui vai a minha crónica das

Festas do Crato, dia 26, quarta feira.

Cheguei cedo, ainda ouvi os acordes finais do grupo One Love Family, óptimo para quem gosta de curtir um sonzinho reggae.
A seguir, foi a vez dos Abba Platinum, um grupo cuja música é, já se vê, um tributo aos Abba.


O som foi engraçado, não envergonha os Abba originais, mas só isso. Notou-se aqui e ali alguma desafinaçãozinha, mas o balanço geral foi muito positivo. deu para os mais... «cotas» (e não só) abanarem o capacete!

O artista que se seguiu fez-nos atravessar o Atlantico! Foi a vez de Martinho da Vila, cantor que tem uma grande claque por terras do Alentejo! E não só, uma vez que a plateia estava bem preenchida por gentes de Terras de Vera Cruz! Trouxe com ele Alcione, outro dos «monstros sagrados» da música brasileira. Juntos, trouxeram aquele som quente de «português achocolatado» que só foi melhor, por causa duma caipirinha bem caprichada!

«Procurei, em todas as mulheres, a Felicidade...»

Quanto ao dia de ontem, quinta-feira... bem, isso foi barra pesada!

Lembram-se de «The House of The Rising Sun»?


Exactamente, «The Animals», mas para explicar bem isso tudo, as emoções que trouxeram a todos aqueles que tiveram o prazer de estar naquele espaço, naquele dia, é necessário tempo e espaço... que neste momento não tenho, pois o pessoal cá de casa já está a reclamar para nos prepararmos para a partida. Hoje é mais um dia de emoções fortes: Sérgio Godinho, Susana Félix e Emir Kusturica e a sua No Smoking Orchestra (que já tive oportunidade de ouvir cá, em Ponte de Sor, há uns anitos atrás, numas Festas da Cidade, no antigo Largo da feira, na companhia dos Da Weasel, quando estavam a dar os primeiros passos...) Quem diria!!

Amanhã conto o que falta, prometo!

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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A propósito da «melhoria» dos resultados escolares (parte II)


Ah, Grande Antero!



A propósito da «melhoria» dos resultados escolares (parte I)


Da caixa de correio do Papagaio, saliento este comentário de C.L., que passo a transcrever:

«José Sócrates diz que quem critica o estudo que dá conta da redução dos chumbos em Portugal está a insultar professores e alunos. Vamos esquecer os alunos, meros peões nesta história.

O Governo associa a queda dos chumbos ao esforço das escolas e seus profissionais. E para mostrar que não há eleitoralismo, o estudo abrange os últimos... 12 anos.

Diz até que as conclusões vão no mesmo sentido do de outros países da UE.


É verdade que a tendência aponta para o que se passa lá fora.


Mas será isso suficiente?


As comparações entre sistemas de ensino europeus e de outros países (nomeadamente Coreia do Sul, Japão e Índia) não deixam ninguém tranquilo. Ou seja, a pergunta que fica é: apesar de menos chumbos, os alunos saem com mais qualificações para enfrentarem o mercado de trabalho?


Não sei se Sócrates e a ministra são capazes de pôr o pescoço no cepo por esta verdade.


Eu não sou!


Vamos aos insultos.


Sócrates já devia ter percebido que quando se compram guerras com certas corporações só há um de dois resultados: ou se ganha ou se perde.


Não se empata.


Ora, depois de tanto "sangue mau" entre as partes, em que o ministério tinha razão no conteúdo (objecto das reformas) mas não na forma (métodos), é duvidoso que os professores caiam neste namoro, desavergonhado, de última hora.


É como se o noivo que largou a noiva para cortejar a vizinha decidisse regressar, meses depois, arrependido.


Ninguém acredita pois não?»



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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Somos Portugueses, 'tá-se mesmo a ver!!!


Somos mesmo portugueses, não há dúvida nenhuma!!

Acabadinho de chegar do Algarve (bem, acabadinho, não, que já passou uma semana), constatei o grave acidente que ocorreu em Albufeira, na praia Maria Luisa. O resultado, já todos sabem: cinco mortos, uma família inteirinha do Porto!

Na desgraça, os Portugueses são muito solidários: eram bastantes aqueles que sentiam a tragédia como sendo sua, pois podia ser qualquer um a ter ficado naquela situação, podia ser qualquer família.

E as operações de resgate dos corpos continuaram, com directos de TV! E os basbaques não saíam da praia, a carpir na tragédia alheia!

Investigações posteriores mostraram que, afinal, algumas entidades, como o nosso Primeiro Ministro ('Expresso' dixit) não consideraram o problema de queda de rochas eminente e, por isso, nada foi feito.

E soubemos mais. Havia um sinal de aviso de queda de rochas, mas as pessoas, como bons portugueses, resolveram pura e simplesmente, ignorá-lo. «Qual quê, aquilo nunca me irá acontecer!»

E foi engraçado (sem piada nenhuma) os capítulos seguintes, como a demolição do rochedo que sobrou, relatado em directo, como se de um encontro de futebol se tratasse: «E agora entra uma retroescavadora para ajudar a desgastar o rochedo...». Quase que poderiamos prever o que seguiria: «E pela esquerda avança a outra máquina, dando oportunidade para que o trator verde avance, segue em frente, toca no rochedo...» Só faltava contratá-la para ajudar o Cardoso a marcar penaltis!... Ou pôr o Sporting a jogar alguma coisa de jeito!

Claro que a coisa não podia ficar por ali. Já tinha havido o acidente, as entrevistas às testemunhas, o resgate dos corpos, a destruição do rochedo... E tudo em directo!

O momento seguinte foi mostrar que nós somos mesmo Europa! «Reparem, as televisões de todo o Mundo relataram a tragédia: Espanha, Reino Unido, Polónia, Alemanha, Roménia...» Ah, que bom, somos Europeus, como aquele senhor que parecia o Avô Cantigas tanto nos gostava de relembrar! Na desgraça, somos Europeus! Na desgraça e no futebol, que ainda vamos tendo o Cronaldo para nos entrar nas televisões a dentro...

Para o caso poder ser concluído, faltava o prólogo e a moral final, cumprindo, assim, a nossa TV, o seu inestimável trabalho de serviço público. E o que se seguiria? Nem mais, nem menos do que a verificação de situações semelhantes em todo o país e, claro, as entrevistas aos «populares»!

Ah, os «populares»... Ainda no Algarve, as TVs encontraram outras situações de falésias instáveis (não é preciso procurar muito) e encontraram famílias inteiras (como as malogradas vítimas de Albufeira) à sombra daquela «dádiva de Deus», uma vez que nem teriam que levar os chapéus de sol... como aqueles que se venderam no início do ano, no Continente (passe a publicidade) por UM EURO!

Que não, que ideia, estavam ali tão bem, que raio, alguma vez poderia haver outra tragédia igual? Não, estamos aqui tão bem, não vai haver DE CERTEZA outro caso igual, e viva a lei das probabilidades!

E no resto do país foi igual. Como aquele idoso que, na zona protegida e interdita na Nazaré, por debaixo do Sítio, alarvemente dizia «ah, já sou velho, isto aqui não vai cair, já caiu lá no Algarve...»

E depois, os «intelectuais»! Adoram botar opinião sobre tudo! O culpado? O Governo! O Primeiro Ministro! Os banheiros! Os concessionários! Se fosse em Ponte de Sor, se calhar o culpado era eu!

Quanto a mim, o culpado é muito simples de indicar: é o Português! Sou eu! És tu! Somos todos nós, aqueles que adora pensar que as desgraças só acontecem aos outros.

A solução para o problema? Tenho duas: uma irónica e outra séria. Quanto à irónica, era colocar um polícia ao pé de cada arriba em situação instável, em permanência 24 horas por dia, porque o Português adora prevaricar, a qualquer hora. Quanto à solução séria, essa era também fácil. Em primeiro lugar, era evitar a construção sobre as falésias, pois isso leva a um desmatamento que faz com que as infiltrações de águas sejam mais pronunciadas, enfraquecendo as arribas marítimas. Em segundo lugar, devia-se consolidar todas as falésias com rochas em identica situação com redes, cimento, como se vê pelas praias dessa Europa fora. E como nós somos Europeus, podia ser que conseguíssemos aprender alguma coisa.

Tão simples como isso. Agora espero os próximos episódios ou, em alternativa, a próxima tragédia!

É que nós somos assim, não há volta a dar. É como com os incêndios: no rescaldo de cada época de fogos, é ouvir os avisos de que é necessário limpar as matas, que estão cada vez mais sujas. E sabem quem é o principal responsável por esta situação? Simplesmente o Estado Português, que é dono de tantas matas mas não faz nada para obviar a que a situação seja resolvida!

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sábado, 22 de agosto de 2009

Se Martin Luther King fosse um Professor em Portugal...

Acredito que, se Martin Luther King (outro Homem Bom...) fosse um professor, hoje, em Portugal, poderia ter tido um discurso mais ou menos parecido com aquele que fez em 1929.

Com a devida vénia, apresento aqui o discurso adaptado, que eu acredito tão verosímil como actual.


"Estou feliz por me unir convosco, neste dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.


Trinta e cinco anos atrás, um punhado de grandes Portugueses abriu as Portas da Liberdade. Esse importante feito veio como um grande farol de esperança para milhões de cidadãos, que viviam na mais abjecta ditadura. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite dos seus cativeiros.


Mas trinta e cinco anos depois, os Professores ainda não são livres e iguais a todos os Portugueses.


Trinta e cinco anos depois, a vida de qualquer Professor ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação, com tentativas constantes de os dividir em classes e géneros!


Trinta e cinco anos depois, o Professor vive numa ilha de desprezo e ataques constantes, no meio de um vasto oceano de uma sociedade que se quer cada vez mais justa, mais solidária.


Trinta e cinco anos depois, o Professor ainda adoece nos cantos da sociedade portuguesa e se encontra exilado na sua própria terra. Assim, nós queremos, aqui e hoje, reclamar a sua vergonhosa condição.


De certo modo, nós só queremos reclamar aquilo que é justo. Quando os arquitectos de nossa Democracia escreveram as magníficas palavras da Constituição, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo Português seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os simples e comuns cidadãos, como também os professores, teriam garantidos os direitos inalienáveis de igualdade, liberdade e a busca da felicidade.


Hoje é óbvio que Portugal ainda não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, o Governo de Portugal deu para os Professores um cheque sem fundo, careca, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".


Mas nós recusamo-nos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós recusamo-nos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós queremos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade, da igualdade e a segurança da justiça.


Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas da democracia.


Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação para o caminho iluminado pelo sol da justiça e igualdade social.


Agora é o tempo para erguer nossa condição de Professor, Educador e Formador, das areias movediças da injustiça social para a pedra sólida da fraternidade e da igualdade.


Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos.


Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Estes últimos anos sufocantes do legítimo descontentamento dos Professores não passarão, até termos um renovador período de liberdade e igualdade. Este ano de 2009 não é um fim, mas um começo.


Esses que esperam que o Professor agora esteja contente, terão um violento despertar se o Governo, qualquer que ele seja, voltar aos negócios de sempre.


Mas há algo que eu tenho que dizer aos meus colegas que, justamente, choram os ataques constantes que têm sofrido. No processo de conquistar o nosso legítimo direito, não vamos satisfazer a nossa sede de igualdade e liberdade bebendo do copo da amargura e do ódio. Temos que conduzir a nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina, como temos feito até agora.


Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma.


A nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou a toda a comunidade que não devemos ter uma desconfiança para com toda a sociedade, como comprovamos pela presença deles nas nossas manifestações, pois eles entenderam que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles perceberam que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar sós.


E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa de que sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos do Governo, "Mas afinal quando é que vocês estarão satisfeitos?"


Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto qualquer Professor for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade de qualquer Governo.


Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto os nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não virmos reconhecidos os nossos direitos.


Nós não estaremos satisfeitos enquanto qualquer Governo queira dividir os Professores em titulares, não titulares, divisões tão idiotas quanto desnecessárias!


Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Professor tenha que andar, ano após ano, na eminência de ficar sem trabalho.


Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto um Professor, ano após ano, tenha que andar com a casa às costas, longe da sua família, do seu lar.


Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a rectidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.


Eu não esqueci que muitos de vós atravessaram muitas dificuldades ao longo destes últimos anos. Alguns de você nem sequer sabem se têm trabalho para o próximo ano lectivo. Alguns de vocês vieram de áreas onde a vossa busca pela liberdade vos deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade Governativa e de Directores sem escrúpulos.


Vocês são os veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando e lutando com a fé que o sofrimento imerecido é redentor.


Voltem para as vossas escolas, voltem para o Norte, para o Sul, para as Ilhas, voltem para as escolas a precisar de obras urgentes, onde cada Professor é um herói, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixem cair no vale de desespero.

Eu digo-vos, hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho de Igualdade e Fraternidade daqueles que auguram sempre um Mundo Melhor.


Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença, nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os todos os portugueses são criados iguais.


Eu tenho um sonho que um dia nas ruas das nossas cidades, todos os professores, pais, toda a comunidade, todos juntos se poderão sentar à mesa da igualdade e da fraternidade.


Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no Ministério da Educação, que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.


Eu tenho um sonho que os filhos deste país vão um dia viver numa nação onde elas não serão julgadas pela profissão que têm, mas pelo conteúdo de seu carácter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, na Avenida 5 de Outubro, com os seus funcionários malignos, com os Pedreiras, Lurdes e Lemos, com os governadores com lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia, em Lisboa, os Professores sairão uma vez mais à rua e poderão unir as mãos com todos os Portugueses. Eu tenho um sonho hoje!


Eu tenho um sonho que um dia toda a nossa luta será exaltada, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada


Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que cada um regressará para as suas escolas.


Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança.


Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes da nossa nação numa bela sinfonia de fraternidade.


Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para defender a liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livres.


Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.


"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se Portugal é uma grande nação de oitocentos anos, isto tem que se tornar verdadeiro.


E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha mais alta.


Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de todos os Governos.


Ouvirei o sino da liberdade nas escolas e Agrupamentos de Portugal, novas e velhas.


Em todas as escolas, ouvirei o sino da liberdade e da igualdade.


E quando isto acontecer, quando nós permitirmos o sino da liberdade e da igualdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo o país e em todas as cidades, aldeias e vilas, em todas as escolas, então nós poderemos acelerar aquele dia quando todos os Portugueses, novos e velhos, protestantes e católicos, ricos e pobres, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho espiritual negro:


"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus Todo-Poderoso, somos livres afinal!"


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