sábado, 31 de dezembro de 2011

O meu ano de 2011

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Temi pela Educação em Portugal.

Passeei pelo Rio Sor.

Fotografei a minha cidade.

Perdi o meu pai.

Anunciaram o fim da CP em Ponte de Sor.

A minha cara metade fez anos.

A minha filha atingiu a maioridade.

Celebrei Martin Luther King.

Li uma crónica do Raúl Cóias.

Gostei e publiquei-a.

Prezei a Amizade, a verdadeira.

Ri-me com a tecnologia wireless.

Descobri o Facebook.

O meu blogue fez dois anos.

Sofri pelo Benfica.

O Sócrates era cada vez mais uma anedota.

Os nossos Correios tornavam o absurdo em normalidade.

Devia ter reclamado e não o fiz.

Apaixonei-me cada vez mais pela Fotografia.

Fotografava tudo a toda a hora.

Continuava curioso.

Continuava vivo.

Persegui um arco-iris.

Descobri um duplo (My God, a double rainbow...)

Admirei-me pela renovação constante da Internet.

Fotografei a minha cidade.

Passeei por Coimbra.

Visitei a Lituânia. E a Letónia.

Fui ao Porto. O batizado do Gabriel.

A minha profissão continuava a dececionar-me cada vez mais.

Mas adorava os meus alunos.

Fiz uma sardinhada. E fui a Tomar.

Quase me perdi no meio da Festa dos tabuleiros.

E fui escrevendo cada vez menos no blogue.

Celebrei as Festas da Cidade.

Orgulhei-me de ver a minha filha na Orquestra.

Em Agosto fui ao Algarve. E à Figueira da Foz.

Fui às Festas do Crato. E às de Campo Maior.

Visitei Marvão com amigos.

Morreu o Raul Cóias.

Vi que algumas pessoas que prezo eram hipócritas.

Fui a Santiago de Compostela e enganei o tempo.

Deliciei-me com o Cirque du Soleil.

Fui à ‘Catedral’ com o Janeca.

Sobrevivi a mais um ano, na companhia daqueles que amo.

Digam lá se isto não é bom!

E estou à espera de um novo, prontinho para estrear!

Que venha 2012!!!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Para os meus amigos que estão com a “doença da época”…

 

«Todos Os Homens São Maricas Quando Estão Com Gripe»

(António Lobo Antunes)

 

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Pachos na testa
Terço na mão
Uma botija
Chá de limão
Zaragatoas
Vinho com mel
Três aspirinas
Creme na pele
Dói-me a garganta
Chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer
Mede-me a febre
Olha-me a goela
Cala os miúdos
Fecha a janela
Não quero canja
Nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes
Não vales nada
Se tu sonhasses
Como me sinto
Já vejo a morte
Nunca te minto
Já vejo o inferno
Chamas diabos
Anjos estranhos
Cornos e rabos
Tigres sem listas
Bodes de tranças
Choros de corujas
Risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes
Que foi aquilo
Não é a chuva
No meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes
Fica comigo
Não é o vento
A cirandar
Nem são as vozes
Que vêm do mar
Não é o pingo
De uma torneira
Põe-me a santinha
À cabeceira
Compõe-me a colcha
Fala ao prior
Pousa o Jesus
No cobertor
Chama o doutor
Passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes
Nem dás por nada
Faz-me tisanas
E pão de ló
Não te levantes
Que fico só
Aqui sózinho
A apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer

sábado, 10 de dezembro de 2011

Ainda a propósito dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor (II)

 

Onde estavas no 25 de Abril de 74?

Esta pergunta era frequentemente feita numa rábula do Herman José, na altura em que ele até tinha piada…escuta

No dia 25, não sei precisar bem, pois não houve nada que me marcasse em concreto nesse dia (além dos acontecimentos do dia, mas isso já é outra história…) Quanto ao dia 21 de Abril, aí a coisa já fia mais fino. Estava num acampamento em Abrantes, na Mata de São Lourenço, por detrás do então Regimento de Infantaria de Abrantes. O acampamento teve a participação de alguns Agrupamentos de Portalegre, Castelo Branco e Santarém. E tivemos uma novidade enorme, para nós, que sempre nos desenrascámos sem precisas da ajuda de ninguém (o Escuta é desenrascado, lembram-se? 11º mandamento da Lei do Escuta…)

As nossas cozinhas, que se situavam junto a cada canto de Patrulha, eram sempre motivo para competição saudável. Por vezes lume de chão, outras tipo forno, elas eram como que o espelho onde toda a atividade da Patrulha se revia. O Cunha, o nosso cozinheiro, rapaz de grandes conhecimentos pantagruélicos (não é ironia, não senhor…), era o responsável dos nossos estômagos… Mas nesse acampamento houve uma novidade: o Regimento resolveu obsequiar-nos com um almoço, todo modernaço, naquelas cozinhas de campanha, todas XPTO para a época… Lembro-me daquela feijoada, que nos soube melhor que ginjas… Mas sendo feijoada, já sabem que as consequências foram menos agradáveis, mas adiante.

Na exposição a decorrer no Centro de Artes e Cultura existe uma placa que foi oferecida à Patrulha Pombo como prémio pelo 2º lugar no nosso raide, que compreendeu as localidades de Abrantes, Alferrarede e Tramagal. Devo dizer que as Patrulhas de Ponte de Sor ‘paparam’ os prémios todos de todas as atividade. No Jogo de cidade fomos 1ºs, no raide 2ºs (a ‘nossa’ Patrulha Lobo ficou em 1º)…

Um ano depois, em 75, realizaram-se as Primeiras Eleições Livres em Portugal. Na cidade de Ponte de Sor foi-nos pedido que ajudássemos as pessoas a encaminharem-se para as assembleias de voto e foram colocadas mesas junto das mesmas. As assembleias funcionavam nas Escolas Primárias junto à Igreja, nas Primárias da Rua Garibaldino de Andrade e na Casa do Povo, salvo erro.

Aquilo é que foi trabalhar! Lembro-me que eu fiquei nas Primárias junto à igrejaFLOR DE LIZ -ESCUTISMO… Bem cedo, pelas 7 e meia (acho que as urnas abriam às 8, nessa época) lá estávamos nós, numa mesa e com o conjunto de editais, com os nomes de toda a gente para indicarmos qual o sítio, qual a mesa… Filas e mais filas de gente! No Largo da Igreja tratámos de organizar as pessoas, que formavam uma mole organizada, mas muito longa, quase dando uma volta à igreja!

E houve aquele episódio, que provocou risos e alguma incompreensão nalgumas pessoas ligadas a partidos menos… tolerantes. Frutos do PREC! Uma velhota chegou-se a nós e perguntou:

- Oh meninos, onde é que eu voto socialmente?

Nós, olhando um para o outro, dissemos:

- Minha senhora, a senhora vote em quem quiser, mas tem é que nos dizer o nome para nós lhe dizermos em que mesa vai votar!

A inocência dos nossos 15 anos não nos permitiu ver aquilo que mentes mais obscuras quiseram ouvir, ou seja, que estaríamos a indicar a alguém em que partido votar. A queixa foi feita, mas não deu em nada, pois aquilo foi somente aquilo que foi: um grupo de jovens tentando, à sua maneira, ajudar os mais idosos que, só na sua idade madura, estariam a experimentar pela primeira vez, o prazer de poderem votar em liberdade!

Enfim, paranóias do PREC, pois não nos podemos esquecer que estávamos em 1975, naquele que viria a ser conhecido como o Verão Quente!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Nos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor (I)

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Na vida de uma pessoa, na sua formação enquanto Ser Humano e pensante, há opções que se fazem que, para o melhor e para o pior, condicionam o seu futuro. Sempre assim foi e sempre será, com certeza.

Na minha formação e educação como Homem, houve algo que apareceu, digamos, na hora certa. Entre os anos de 1972 e 1978 fui Escuteiro. (bem, como dizem os entendidos, e com razão, «uma vez escuteiro, escuteiro para toda a vida», por isso posso dizer, parafraseando John Kennedy, «Eu Sou Um Escuteiro!»)

Tinha 12, talvez 13 anos quando abracei a causa escutista, no Agrupamento 101, de Ponte de Sor. Era um rapaz calmo, como qualquer jovem daquela idade. Gostava de futebol, adorava jogar à bola no Largo da Igreja… Era uma atividade bem… digamos, ativa, pois não poucas vezes tivemos de correr à frente da GNR, que nos apreendia as bolas e ameaçava com isto e aquilo! Ou do saudoso Padre Frederico, que recordo com alguma bonomia, mas que não era lá muito flor que se cheire, pois à nossa conta deve ter construído uma enorme coleção de bolas de futebol de todos os tipos, tamanhos e feitios. E obrigou-nos a esgotar o stock de bolas de plástico, de cautchú, de borracha, que Ponte de Sor tinha!

Mas não me quero perder daquilo a que me propus, falar dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor. E para falar nisso… Ui, tantas e tantas histórias que queria contar, mas a verve literária não é lá muito famosa e não vos quero aborrecer com palavras ocas e despidas de sentido.

Como começar? Fui, ao longo dos anos, membro, Guia e Subguia da famosa Patrulha Pombo. Como tal, adorava as reuniões de sexta feira à noite, onde os Chefes, Guias e Subguias de todas as Patrulhas se reuniam e delineavam as tarefas a executar no dia seguinte. As reuniões eram na sede, uma casa velha mas que adorávamos, situada na Rua Vaz Monteiro (que curiosamente foi mais tarde comprada pelo meu pai para construir a nossa casa e onde construiu o primeiro salão de jogos de Ponte de Sor, o Sojogos), emprestada pela D. Margarida Vaz Monteiro.bp1

Fecho os olhos e consigo ver a sede. Uma sala grande (se considerarmos grande uma sala de 3 por 4 metros…), com lareira, uma outra sala, um quintal, com uns velhos matraquilhos... Um luxo! Para muitos de nós, era como uma segunda casa.

Todos sábado lá estávamos nós, na sede e fardados, prontos para uma saída ao campo, um jogo de cidade, um raide ou qualquer atividade de solidariedade, que na altura não se chamava solidariedade, mas sim qualquer outra coisa. O que interessava era que conseguíamos transmitir os ensinamentos do pai do Escutismo, Lord Baden Powell, fazer o Bem e «deixar o Mundo um pouco melhor do que o encontrámos».

Lembro-me do «núcleo» do Escutismo nessa altura. Havia os Lobitos (que hoje são homens feitos, alguns com filhos Escuteiros também), havíamos nós, os Exploradores e os mais velhos, os Caminheiros. Acima destes tínhamos os Chefes: o Chefe Rosa, pessoa austera mas capaz de um sorriso e de uma piada na hora certa, e o Chefe Jaime, o nosso líder, o nosso guru, o nosso ídolo.

Nos Caminheiros, lembro-me do Luciano, das Galveias, do Jorge Mendes, do Albuquerque, do Carita e do saudoso Zé Luis «Pig», o nosso irmão mais velho, o nosso guardião, infelizmente tão cedo desaparecido. Nos Exploradores, havia sempre alguma rivalidade entre as duas patrulhas mais antigas: a Patrulha Lobo e a minha, a Patrulha Pombo.

Da Patrulha Pombo, lembro-me do Pedro Rosa, do Filipe (o que será feito dele?), do Garolas, do Feiteira, do Cunha, do Luis Fernando... Da Patrulha Lobo tínhamos o Jorge «Cebola», o Carlos Boléu, o Pedro Bairrão, o Zé «da Ford», o Jorge «Batatinha», o Zé Luis Bucho, o Vieira... Havia outros mais e outras Patrulhas, mas a memória já vai deixando algumas coisas desvanecerem-se na bruma dos tempos e por isso peço desculpa aos que não mencionei.

E tudo isto a propósito dos 50 anos do Escutismo em Ponte de Sor... E do lançamento do livro «Memória e Desafio», no passado sábado, 3 de dezembro, razão para desfolhar memórias e recordações daqueles tempos lindos de 73, 74, 75...

Vou tentar escrever mais outras coisas da época, do que o Escutismo significou para mim: do Acampamento da Fraternidade, da ida às 7 da manhã dar café ao pessoal que ia nos comboios para Lisboa, no Padre Fernando Farinha, do prazer que era a saída para o campo, do montar a tenda, da ajuda nas primeiras eleições livres no nosso país...